domingo, 29 de março de 2009

Primeiro, a idéia. Embutida ou explícita, não se sabe. Mas ela incomoda se conservada. Quer sair e romper as barreiras entre o haver e o existir. Emana por tantas células empenhadas em expulsá-las, por pulsos fortes, mãos delicadas e então: a PALAVRA. Naquele vazio do papel cheio de traços... Pronto; nasceu.

Depois, a história. A narrativa crua de infindas interpretações. Não cabe na disposição cardinal as dimensões deste texto. As nuances escondidas aguçam minha curiosidade. Desculpem, mas peço silêncio. Não adianta falar nada. Deixa entrar ao que se assiste. Só desnudem-se antes. Desvirginem-se lá. Sem julgamentos; sem defesas.

A invasão permitida consiste na consciência brutal de que somos compostos das mesmas células do brilhante autor, sob as perspectivas da exímia diretora, atrás das inusitadas intenções dos três atores e ponto. Porque de quantos Luís Antônios somos vítimas e acusados? Quantas Lavínias interceptam nossas atitudes? Quantas melodias deixamos chorar ao fundo ou regar nossas trilhas nem sempre sonoras? Desculpem-me, mas de quantos Luíses é feito o Antônio e quantos Antônios aparecem no Luís nos momentos cruciais do digno diálogo? Códigos... desconcertantes sem respostas... Irmãos.

Mistério, destreza, realidade, moral, ciúme, covardia. Estão invocados os incômodos que nos rondam e repito: deixem entrar pra calar, pra rasgar, pra doer. Cada detalhe e um espetáculo diferente... Cada diferença que um arrepio flagra a pele e convida uma lágrima a sair pra ceder mais espaço. Tanta sutileza contida quanto brutalidade declarada ali, diante de mim, na arte de fazer existir uma única idéia. Que se multiplica do papel aos primeiros leitores (elenco) e se re-inventa ao bel prazer nos expectadores que souberem absorver-se. Digo isto porque o ônus da prova consta do sucesso na ausência de aplausos, que pela primeira vez cede sim ao silêncio dos que renderam-se. Digo isto porque o ônus da dúvida consta pela arena exposta, pela platéia escassa, pelo cenário simples, pelo café não servido, pela luz fraca, todos cedentes à nobreza da criação.

Fico imaginando quantas surpresas eu ainda teria. Em quantas faces Gustavo, Eduardo e Bruno se desdobrariam pra me conduzir ao delírio de vê-los me esclarecer a verdade. Em que momento eu – de tanto perseguir suas respirações ou a ausência delas - desvendaria o real mistério inicialmente imaginado; ou me decepcionaria por descobri-lo nunca o feito. Fico pensando o que nos faz vendermo-nos por um sonho (fuga) ou arrependermo-nos por uma eternidade (volta) entre as duas faces, nossas.

E entre artistas que entram em mim com suas idéias, interajo com as minhas em mutação constante, porque pra idéias não dependemos de códigos... genéticos. Mas da percepção das células - estas sim irmãs - pulsando ali, junto, vibrando, como que querendo invadir a cena, beijar o palco molhado de suor, lamber as palavras daquela forma ditas, acariciar a melodia que por si grita; perdoar-me por tudo que não foi feito de fato.

Porque emocionar é mais que toque, som, imagem e choro. É entrar em alguém em silêncio e permanecer, inovando a cada virada em que se imaginava já estar pleno. E recriar, desvendar, enlouquecer... Aplauso é retribuição indigna. Já que entraram, peguem o que de fato é de valor: NOSSO SILÊNCIO.

Quantos Luís Antônios? Espero continuar contando, ainda que sozinha, e espero que entendam...
Atenciosamente, Marcelle Araujo

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